
Um ano depois de sua publicação, a tradução politicamente correta da Bíblia permanece controversa na Alemanha. Alguns teólogos a consideram uma adulteração, mas mesmo entre os críticos há quem a considere útil.
A Bíblia "in gerechter Sprache", ou Bíblia numa linguagem mais justa, foi criada para ser uma tradução moderna, que daria mais visibilidade às mulheres, corrigiria formulações anti-semitas e chamaria a atenção para questões sociais. Mas o livro com 2.400 páginas, lançado na Feira do Livro de Frankfurt no ano passado, tem dividido tanto teólogos quanto leigos, alguns dos quais se sentem atacados em suas crenças."
A Bíblia não oferece apenas paradigmas, mas fala ao coração da existência humana", declarou a pastora Margit Büttner. "Quando isso é subitamente posto em questão, quando de repente eu não oro mais 'Pai nosso que estás no céu', mas digo: Jesus instruiu seus discípulos homens e mulheres a orar 'Pai e Mãe nossos que estão no céu', isso pode intimidar as pessoas."A nova tradução, fruto do trabalho de dez teólogos e 42 teólogas, menciona as mulheres sempre que os homens são citados, mesmo correndo o risco de distorcer o pano de fundo histórico da Bíblia e de distanciar-se dos originais hebraico e grego.
Assim, o livro refere-se a rabinos e rabinas, embora as primeiras rabinas tenham sido ordenadas só nos anos 1970.Além disso, a "Bíblia em linguagem politicamente correta" muda termos como "homens" por "pessoas", "obedecer a Deus" por "escutar a Deus". E na carta de Paulo aos Romanos, por exemplo, a tradução substitui a palavra "irmão" pela expressão alemã geschwister, que inclui tanto irmãos quanto irmãs.
Apesar de tecer críticas ao projeto, a teóloga católica Helen Schüngel-Straumann disse que uma nova abordagem já estava bem atrasada. "Como teóloga feminista, durante anos lutei para que acontecesse alguma mudança no que se refere à linguagem eqüitativa", disse ela, acrescentando que isso era uma de suas prioridades há décadas.Ainda assim, ela não concorda com a nova tradução por falsificar a verdade histórica.
Para a teóloga, essa nova versão distorce as relações sociais existentes numa sociedade patriarcal, as quais são importantes para compreender o contexto bíblico.A teóloga suíça viu como positivo o afastamento da tradicional percepção de Deus como elemento masculino. Segundo ela, a nova tradução não poderia substituir as versões anteriores, incluindo a de Martinho Lutero, mas foi útil para provocar reflexão.
Apesar de suas reservas, a pastora Büttner também vê vantagens na iniciativa, que, para ela, tem atraído novamente a atenção para a Bíblia. Por outro lado, disse ter ouvido críticas da parte dos católicos. "Se realmente tornar-se aceito que havia apóstolas, a Igreja Católica não poderá ficar como está", disse a pastora protestante.
Colaboração: Linézio Marques
Nota: Se essa "Bíblia" distorce o pano de fundo histórico das Escrituras e se distancia dos originais hebraico e grego, pode até ser considerada literatura ou uma paráfrase, mas chamá-la de "versão" é conferir-lhe uma autoridade que ela não tem.
Por: Michelson Borges
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