
Molemente, a vida atiçava através de agradáveis raios solares. A fartura rodeava os habitantes daquela colônia para veteranos do exército e cidadãos ilustres da capital. Prova disto estava no nome dado à avenida principal: Rua da Abundância. Para cada dia trabalhado, havia dois de descanso! Tinha-se a impressão que nada chegaria a dar errado…
A impressão mudou: jovens que acompanhavam os jogos foram surpreendidos pela primeira saraivada, e obrigados a se abrigar sob o pórtico – que desabou. Quatro dias antes, fortes estrondos vieram do Vesúvio; finalmente, em 24 de Agosto de 79 d.C. o vulcão voltava à atividade. Seu cume partiu-se em dois e surgiu um cogumelo no céu da cidade de Pompéia: vieram as pedras porosas, depois o magma pesado e, por último, as cinzas (magma pulverizado). Tentava-se reunir os bens enquanto blocos maciços, pesando de seis a dez quilos, eram lançados pela erupção, destruindo propriedades, templos de diversos deuses e vidas. Era inútil esconder-se sob as abóbadas da adega - uma vez que os gases asfixiantes entravam pelo complúvio (espécie de clarabóia), indo através do jardim aos corredores e demais cômodos.
Do lado de fora, o dia convidativo se tornara uma noite de enxofre sob a cidade que devia seu nome a Popéia, mulher do imperador Nero. Moças erguiam os vestidos até as narinas, na tentativa de evitar o ar envenenado. Nessa “noite sem deuses” as cinzas úmidas, além de grudar nas pernas dos cidadãos, moldavam seus corpos, imortalizando sua expressão de desespero, dor e últimas preocupações. Uma bela jovem morreu com o espelho de bronze contra o peito, talvez pensando em conservar na memória sua própria imagem.[1]
Apesar de inúmeros grupos religiosos, não se achou cristãos na cidade, muito provavelmente porque sua mensagem não era bem-vinda. É comum, além de antiga, a associação de Pompéia com as cidades de Sodoma e Gomorra.[2] O mesmo clima aprazível e a vida fácil marcava essas localidades, assim como o um padrão de comportamento que desafiava o Céu.
Deus avisou Abraão de que visitaria as cidades do vale do Jordão (Gên. 13:10), com o objetivo de averiguar se o clamor ouvido correspondia aos fatos (Gên. 18:20). Abraão passou a cortesmente questionar Deus, verificando quantos habitantes justos seriam necessários para que a cidade fosse poupada. (Gên. 18:23-32).
No momento em que o Senhor vem “inspecionar” o grito vindo das cidades ímpias, é a oportunidade que cada cristão tem para interceder. Isso implica numa atitude positiva que busca em Deus poder para testemunhar em meio a uma sociedade pecaminosa. Embora Abraão parasse no número hipotético de dez justos (v.32), Deus jamais traria o juízo indistintamente sobre justos e maus. Apenas quanto a bênçãos necessárias ao sustento é que Deus não distingue o caráter das pessoas (Mat. 5:45).
A intercessão nos faz participantes da obra de resgate de pessoas prestes a serem destruídas. Abraão já cumprira com sua parte ao socorrer seu sobrinho Ló, que morava em Sodoma, quando este fora feito prisioneiro de guerra (Gên. 14:12-16); agora, esse guerreiro lutava com outras armas, a fim de que o mesmo Ló fosse salvo em meio a uma guerra espiritual. Como cristãos, temos de deixar tudo quanto nos impeça de viver a vida cristã em sua plenitude – ou seremos retardatários, como Ló, ou, pior, como a esposa de Ló, almas danificadas para sempre pelo desejo de gozar do pecado (Luc. 17:32).
Nesse sentido, compensa nos lembrar de que os habitantes de Pompéia tiveram sua oportunidade de sair da cidade; mas “para cada um daqueles que seguiam pelas estradas a norte ou sul da baía havia outros tantos que olhavam para os refugiados com desdém, acusando-os de covardia ou vangloriando-se do lucro embolsado em razão da ingenuidade de seus conterrâneos.”[3] Enquanto o mundo a nossa volta se corrompe, precisamos nos renovar interiormente, intercedendo para que outros venham também a se salvar, antes que os juízos de Deus se completem (Apoc. 6:16 e 17).
[1] Essa narração deve sua riqueza de detalhes à fantástica obra de André Bellechasse, “Herculano e Pompéia” (Rio de Janeiro, RJ: Otto Pierre Editores, 1978, série “Grandes Civilazões Desaparecidas”).
[2] “Um dos habitantes de Pompéia […]escreveu ‘Sodoma e Gomorra’ em uma das paredes da cidade sepultada. Este juízo sensível, de três palavras, diz mais sobre a cidade que muitos dos livros que se tem escrito a respeito dela.[…]Várias dezenas de edifícios [em Pompéia] foram identificados como prováveis casa de prostiuição. […] Mesmo em residências, as pinturas e os mosaicos representavam toda classe de atividade sexual, e muitos objetos, tais como lâmpadas, pratos, vasos e fontes, tinham motivos sexuais.” Scott Ashley, “El dia del fin del mundo: lecciones de Pompeya”, publicado em Las Buenas Noticias, Marzo-Abril de 2006, volumen 11, número 2, p.10.
[3] Alex Butter Horth & Ray Laurence, “Pompéia – a cidade” (Rio de Janeiro e São Paulo, RJ e SP: Ed. Record, 2007), p. 363.
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